quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Porque boas pessoas sofrem




Swami Tejomayananda
(tradução - Carolina Velardi)


    “Porque pessoas boas sofrem e coisas ruins acontecem com pessoas boas?” Esta questão parece ser muito comum hoje em dia. Parece que as pessoas boas carregam o fardo de todo o sofrimento, enquanto que pessoas más curtem a vida. Mas se observarmos mais de perto, nós percebemos que todos sofrem de alguma maneira. Tendo isto em mente, nossa questão se torna sem sentido. Só porque uma pessoa é boa, não significa que não há sofrimento em sua vida.
    Mas o que queremos dizer com “boa”? Em sânscrito, “sadhu” é a palavra usada para uma boa pessoa. Sadhu vem da palavra “saadh”, que significa “conquistar”. Se nós trabalhamos para nós mesmos e conseguimos coisas boas, não há nada de louvável nisso, mas se ajudarmos os outros a conquistar seus objetivos, aí sim há uma conquista. Se alguém é bom para você e você aje com reciprocidade, é somente senso de cortesia. Mas se alguém está te fazendo mal, e apesar disso, você continua a desejar o bem a esta pessoa sem esperar nada em troca, isso sim é bondade verdadeira. Um sadhu que estava tomando banho no rio, viu um inseto se afogando. Ele salvou o inseto do afogamento e o inseto o picou. Novamente, o inseto caiu no rio e o sadhu o tirou da água e o colocou embaixo da sombra de uma árvore. Vendo a situação, uma pessoa perguntou ao sadhu: “Porque você fez isso?” Ele respondeu, “O inseto não abdicou de sua natureza, porque eu deveria?”
Como podemos alcançar esta felicidade em nossas vidas? Para alcançar qualquer objetivo, nós devemos primeiramente ter uma meta. Similarmente, para conquistar a bondade, nós devemos ter um padrão de bondade que nos seja familiar, pois somente assim conseguiremos ascender ao níveis desejados. Enquanto ainda vemos diferenças no mundo ao nosso redor, a verdadeira bondade não irá se manifestar. Somente poderá ser alcançada quando nos tornarmos conscientes de nossa unidade com os outros. Um exemplo irá ilustrar este ponto melhor. Todos os órgãos do meu corpo são partes de um todo. Se o dedo entrar no olho, há um perdão imediato, por causa da identificação completa com o dedo.
    Agora que sabemos o que é bom, vamos ver o que é o sofrimento. O sofrimento objetivo acomete todas as pessoas, boas ou más. As situações que levam ao sofrimento podem ter suas raízes em ações passadas. Objetivamente, a existência da dor ou qualquer outra deficiência física não pode ser negada, mas o grau de tristeza que isto acarreta, é totalmente subjetivo. Riquezas ou posições de poder não garantem a felicidade. As pessoas se tornam infelizes por pequenas coisas. Se a pessoa afirma que é boa e está sofrendo, enquanto uma pessoa desonesta está prosperando, nós podemos ter certeza de que a pessoa não é boa. Para um homem bom, o sofrimento real é fazer algo contra suas convivções. Imagine que um vegetariano convicto enfrenta uma situação em que ele pode permanecer faminto ou comer carne, provavelmente a primeira opção seria mais aceitável.
    Nenhuma prática espiritual pode eliminar o sofrimento, mas elas protegem a mente e fazem com que o sofrimento se torne aceitável, assim como em um dia chuvoso, nós não podemos parar a chuva, mas podemos nos proteger da chuva com um guarda-chuva. Bhagavan Krishna diz, “Uma pessoa boa nunca sofre.” Por alguma lógica nós sentimos que o sofrimento e a alegria estão relacionados com ações passadas. Se observarmos no nível sutil, nós encontraremos resultados imediatos de nossas ações. No momento em que um pensamento bom entra em nossas mentes, nós sentimos alegria, e similarmente um pensamento ruim causa agitação.
    O sofrimento real é quando perdemos nossa bondade. Comprometer a nossa bondade é o maior sofrimento. Até quando superficialmente parece que pessoas ruins estão prosperando, não é desculpa nenhuma para nos comprometer. O problema surge quando uma pessoa não tem um ideal ou quando essa pessoa não é capaz de viver pelo seu ideal. Mas o maior problema é quando a pessoa acredita que seu ideal não vale a pena ser vivido e perdeu sua utilidade. Lembre-se, uma boa pessoa é fiel as suas convicções, porque “Se você não é fiel a algo, se perderá em tudo”.



domingo, 18 de dezembro de 2011

Aceitação


Swami Vagishananda
(tradução - Carolina Velardi)

    Há muitas ocasiões na vida, muitas situações na vida que eu posso mudar. Se eu tiver recursos suficientes, eu posso trocar a mobília da minha casa, eu posso comprar roupas novas, eu posso comer fora 3 vezes por semana, eu posso acampar todo fim de semana, eu posso mudar meu corte de cabelo infinitamente. Se fizer frio eu posso comprar um aquecedor, se fizer calor, um ar-condicionado. Um micro-ondas novo... sim há muitas mudanças que eu posso fazer.
    Se eu não tiver recursos mas muita criatividade, eu posso fazer as coisas que faço todos os dias, mas de maneiras novas! Eu posso cozinhar com os mesmos ingredientes, mas o sabor será diferente, e bom. Eu posso colocar a mesa de um jeito novo. Eu posso cantar e dançar de maneira diferente a cada dia e me divertir também. Eu posso mudar o meu apartamento, carro ou emprego.
   Se eu tiver um coração grande, eu posso expressar o amor do meu coração de modos diferentes também. Eu posso mudar minhas atitudes e meu comportamento se assim eu escolher. Eu posso apertar o que precisa ser apertado e soltar o que precisa ser solto. Se eu for muito inflexível e rígido como pessoa, eu posso me tornar mais flexível. Se eu sou crítico e sempre encontro culpados, eu posso tentar mudar isso também. Se eu sempre culpo os outros pelos meus problemas, eu posso averiguar se isso é verdade. Se eu sou uma pessoa que não sabe estipular limites, então eu posso aprender a fazer isso. Se eu sou sempre dependente de alguém e isto se tornou doloroso para mim, eu posso aprender a sair desta situação. Se eu sou sempre medroso, eu posso aprender a encarar desafios corajosamente. Se eu for muito corajoso a ponto de me tornar imponderado, então eu posso aprender a exercitar a precaução.
    Qualquer coisa que eu possa mudar, se eu sentir que eu preciso mudar - Eu devo mudar. Mas eu não controlo tudo na vida. Há algumas situações que são como são, alguns eventos que aconteceram, que eu não posso mudar.

Eu não posso mudar a temperatura do país.
Eu não posso mudar os políticos imediatamente!
Eu não posso mudar o fato que uma pessoa próxima faleceu.
Eu não posso mudar a minha ascendência.
Eu não posso mudar a minha infância.
Eu não posso mudar o meu passado - feliz ou triste.
Eu não posso mudar a minha idade.
Eu não posso mudar a minha aparência com muita frequência.

    Algumas vezes eu tenho responsabilidades familiares, meu chefe é chato e eu não posso mudar de emprego. Acima de tudo, eu não posso mudar as pessoas - isto inclui meus pais, meu cônjuge, meus cunhados, cunhadas, noras, genros, sogros, sogras, meus filhos, meu chefe, colegas de trabalho, funcionários... a lista é infinita. Quando alguma coisa não pode ser mudada, qualquer que seja - quando eu acho que tenho uma incapacidade de ter as coisas como quero - eu me sinto impotente, triste, agitado e bravo. Eu entro em depressão com frequência também.
    Agora vem o fato difícil - a situação não pode ser mudada. Se eu quero que as pessoas mudem, por que elas deveriam? Elas devem querer que eu mude também. Talvez eu também não queira mudar. Ninguém pode fazer uma pessoa mudar, a não ser que a pessoa realmente queira. É assim. Talvez se eu tentar entender o “background” (a experiência de vida) de onde vem essa pessoa, então talvez eu possa entendê-la melhor e sentir alguma compaixão por ela ao invés de raiva. Talvez minhas expectativas sejam irracionais. Talvez minhas expectativas sejam racionais mas a pessoa não pode ir de encontro a elas, ou não quer ir de encontro a elas, ou não pode. Seja qual for a razão, é assim que as coisas são. Não seria mais fácil aceitar graciosamente que é assim que a pessoa é, que a situação é assim, que o meu passado foi assim, que o que aconteceu, aconteceu? Eu não posso fazer nada a respeito. Se eu puder mudar algo, eu irei - se eu não puder, eu aceito graciosamente. Quando eu aceito, há um alívio porque a minha resistência ao fato sumiu. Mas a capacidade de aceitar graciosamente o que eu não posso mudar é algo que eu não sou capaz de fazer facilmente. Mas pelo menos eu vou valorizar isso. Eu vou valorizar, somente quando souber o benefício que vou tirar disso. Para entender o valor da aceitação graciosa, vamos ver o que nós não conseguimos se não tivermos esta aceitação. Então nós podemos ver o que pode nos ajudar.
    Quando eu não estou apto a aceitar um fato que não pode ser mudado - eu me sinto impotente, eu me sinto bravo e ressentido. Todos os meus momentos presentes estão ocupados apenas em me preocupar e pensar e repetir as cenas novamente e novamente. Eu perco a minha auto-estima e destruo qualquer chance de alegria que eu possa ter no presente momento. Vamos supor que estou andando e há um lindo pôr do sol -Eu não estou apto a apreciar esta verdade sobre o meu momento presente - eu estrago meus momentos presentes, me preocupando com o passado, a injustiça, como eu gostaria que a situação mudasse... E se eu continuo com esse estado de espírito de resistência e dor indefinidamente, a minha saúde é afetada. Eu tenho úlceras, problemas cardíacos, dores de cabeça, dores no corpo. Eu não encontro felicidade na vida e a minha tristeza cai sobre os outros que estão ao meu redor. Agora quando o fato é que eu não posso mudar a situação, este estado de espírito me ajuda? Ou me machuca? Claramente eu estou me machucando. Eu quero continuar me machucando? Essa é a escolha que eu tenho que encarar. Eu posso continuar a me machucar por reter essa resistência aos fatos e me massacrar com mágoas e me sentindo mal - ou eu posso apenas deixar ir - aceitando. Conscientemente deixando de lado a minha vontade de resistir a um fato imutável. Eu tenho que ver isso muito claramente e dar valor a paz de espírito e um certo alívio pelos resultados por causa da aceitação dos fatos. Uma vez valorizando isso, então aparecem maneiras de me ajudar a deixar ir.
    A devoção ao Senhor nascida do entendimento de que o Senhor é inestimável. Para entender o Senhor, venha para aulas de Gita! O entendimento de que o Senhor é Todo-Inteligência é enxergar o fato de que qualquer coisa que há na criação está em Ordem, ( até mesmo a desordem está em ordem perfeita!) há um significado por trás disso tudo, há um propósito muito importante. O propósito da minha vida é crescer - talvez por causa destas situações agora eu posso rezar. A devoção crescente na forma de confiança crescente na ordem do Senhor, uma confiança crescente de que cada situação tem um propósito e um significado por trás de tudo e é sempre tudo para o melhor, mesmo que eu não possa entender tudo agora. Eu reconheço que eu sou impotente, aceitando a situação e então quando estou impotente eu procuro ajuda da Fonte de Toda a Ajuda - o Senhor, em uma oração significativa. Procurar ajuda quando é necessário, é viver com inteligência. Portanto eu posso fazer esta oração ao Senhor:

    -Senhor, que eu tenha maturidade para aceitar graciosamente as coisas que eu não posso mudar; que eu tenha vontade e esforço para mudar o que eu posso; e que eu tenha sabedoria para saber a diferença entre o que eu posso ou não mudar.